Pathfinder: o Protótipo que Preparou o Caminho para os Ônibus Espaciais

1. Introdução

O simulador de testes Pathfinder foi uma das primeiras iniciativas da NASA para desenvolver um veículo espacial reutilizável, capaz de transportar pessoas e cargas para a órbita terrestre e retornar à Terra. 

O Pathfinder foi um protótipo de baixo custo, construído para testar as características aerodinâmicas e estruturais dos futuros ônibus espaciais. 

O simulador Pathfinder no Centro Espacial Kennedy, durante um teste de ajustes, em 19/out/1978.
©Arquivos da NASA.


Entre 1977 e 1978, o Pathfinder foi submetido a uma série de testes de solo e de voo, que forneceram dados valiosos para o projeto e a operação dos ônibus espaciais. 

Neste artigo, vamos explorar a importância histórica do simulador Pathfinder, desde o seu desenvolvimento até o seu legado.

2. Necessidade de Protótipos

2.1 Desenvolvimento do Programa de Ônibus Espaciais

O programa de ônibus espaciais foi concebido pela NASA na década de 1960, como uma forma de reduzir os custos e aumentar a frequência dos voos espaciais tripulados. 

A ideia era criar um veículo espacial que pudesse ser lançado como um foguete, manobrar na órbita terrestre como uma nave e pousar como um avião. 

Para isso, era necessário desenvolver uma tecnologia inovadora, que combinasse os requisitos de desempenho, segurança e reutilização. 

A NASA decidiu construir protótipos para testar os conceitos e as soluções técnicas para os ônibus espaciais, antes de construir os veículos operacionais. 

O Pathfinder foi um desses protótipos, que teve um papel crucial na preparação para os ônibus espaciais.

2.2 Objetivos de Teste

O Pathfinder foi projetado para testar as características aerodinâmicas e estruturais dos ônibus espaciais, em diferentes condições de voo. 

Os objetivos específicos dos testes do Pathfinder eram:

  • Verificar a estabilidade e o controle do veículo durante a reentrada atmosférica e o pouso.
  • Avaliar o comportamento do veículo sob cargas aerodinâmicas e térmicas.
  • Medir as forças e os momentos aerodinâmicos atuantes no veículo.
  • Validar os modelos matemáticos e as simulações usadas para o projeto dos ônibus espaciais.
  • Testar os sistemas de navegação, comunicação e telemetria do veículo.
  • Testar os procedimentos de operação e manutenção do veículo.

3. Projeto e Construção

3.1 Características do Pathfinder

O Pathfinder era um protótipo de aço e madeira, que tinha a mesma forma e dimensões dos ônibus espaciais, mas não tinha motores, asas ou sistemas funcionais. 

O Pathfinder pesava cerca de 34 toneladas, enquanto os ônibus espaciais pesavam cerca de 100 toneladas. 

O Pathfinder tinha uma superfície lisa, sem o revestimento térmico dos ônibus espaciais, que protegia o veículo do calor da reentrada. 

O Pathfinder também não tinha o compartimento de carga dos ônibus espaciais, que podia levar satélites e outros equipamentos para a órbita. 

O Pathfinder era basicamente uma maquete do ônibus espacial, que servia para testar o seu comportamento aerodinâmico.

3.2 Processo de Construção

O Pathfinder foi construído pela NASA em 1976, no Marshall Space Flight Center, em Huntsville, Alabama. 

O processo de construção envolveu várias equipes de engenheiros, técnicos e operadores, que trabalharam em conjunto para montar o protótipo. 

O Pathfinder foi construído com materiais simples e baratos, como aço, madeira e fibra de vidro. 

O custo total do protótipo foi de cerca de 1,5 milhão de dólares, enquanto os ônibus espaciais custavam cerca de 1 bilhão de dólares cada. 

O Pathfinder foi construído em apenas seis meses, enquanto os ônibus espaciais levavam cerca de cinco anos para serem construídos.

4. Testes e Resultados

4.1 Testes de Solo

O Pathfinder foi submetido a uma série de testes de solo, antes de ser levado para os testes de voo. 

Os testes de solo incluíram:

  • Testes de vibração: O Pathfinder foi colocado em uma plataforma que simulava as vibrações causadas pelo lançamento e pela reentrada. O objetivo era verificar a resistência estrutural do protótipo e a integridade dos seus sensores e sistemas de medição.
  • Testes de peso e balanceamento: O Pathfinder foi pesado e balanceado para determinar o seu centro de gravidade e a sua distribuição de massa. O objetivo era garantir que o protótipo tivesse as mesmas características de peso e balanceamento dos ônibus espaciais.
  • Testes de transporte: O Pathfinder foi transportado por caminhão, trem e balsa, para testar a sua capacidade de movimentação e a sua compatibilidade com os veículos de transporte. O objetivo era verificar se o protótipo podia ser transportado com segurança e eficiência para os locais de teste.

4.2 Testes em Voo

O Pathfinder foi submetido a dois tipos de testes em voo: os testes de aproximação e aterrissagem (ALT) e os testes de voo orbital (OFT). 

Os testes em voo foram realizados entre 1977 e 1978, em diferentes locais dos Estados Unidos.

  • Testes de aproximação e aterrissagem (ALT): O Pathfinder foi acoplado ao topo de um Boeing 747 modificado, chamado de Shuttle Carrier Aircraft (SCA). 

O SCA levava o Pathfinder para uma altitude de cerca de 10 mil metros, e então o soltava. 

O Pathfinder então planava sem propulsão até pousar em uma pista. 

O objetivo era testar a estabilidade e o controle do protótipo durante a reentrada e o pouso. 

O Pathfinder realizou oito voos de ALT, sendo o primeiro em 18 de agosto de 1977 e o último em 16 de novembro de 1977. 

Os voos de ALT foram realizados no Dryden Flight Research Center, na Califórnia, e no Kennedy Space Center, na Flórida.

  • Testes de voo orbital (OFT): O Pathfinder foi transportado por um avião cargueiro C-5 Galaxy até o Centro Espacial Johnson, no Texas. 

Lá, o Pathfinder foi colocado em uma câmara de vácuo, que simulava as condições de temperatura e pressão do espaço. 

O objetivo era testar o comportamento do protótipo sob cargas aerodinâmicas e térmicas. 

O Pathfinder realizou dois testes de OFT, sendo o primeiro em 20 de março de 1978 e o segundo em 5 de abril de 1978.

Os testes do Pathfinder foram bem-sucedidos, e forneceram dados valiosos para o projeto e a operação dos ônibus espaciais. 

Os testes mostraram que o protótipo era estável e controlável em todas as fases de voo, e que os modelos matemáticos e as simulações usados para o projeto dos ônibus espaciais eram precisos e confiáveis. 

Os testes também mostraram que os sistemas de navegação, comunicação e telemetria do protótipo funcionavam adequadamente, e que os procedimentos de operação e manutenção do protótipo eram viáveis e eficientes.

5. Contribuições para o Programa Espacial

5.1 Aprendizados e Aperfeiçoamentos

O simulador Pathfinder contribuiu significativamente para o programa espacial, ao fornecer aprendizados e aperfeiçoamentos para o projeto e a operação dos ônibus espaciais. 

Alguns dos principais aprendizados e aperfeiçoamentos foram:

  • Aperfeiçoamento do design aerodinâmico dos ônibus espaciais: 

Os testes do Pathfinder mostraram que o protótipo tinha uma boa estabilidade e controle em todas as fases de voo, e que os modelos matemáticos e as simulações usados para o projeto dos ônibus espaciais eram precisos e confiáveis. 

Isso permitiu que a NASA refinasse o design aerodinâmico dos ônibus espaciais, melhorando o seu desempenho, segurança e eficiência.

  • Aperfeiçoamento dos sistemas de navegação, comunicação e telemetria dos ônibus espaciais: 

Os testes do Pathfinder mostraram que os sistemas de navegação, comunicação e telemetria do protótipo funcionavam adequadamente, e que os procedimentos de operação e manutenção do protótipo eram viáveis e eficientes. 

Isso permitiu que a NASA aprimorasse os sistemas de navegação, comunicação e telemetria dos ônibus espaciais, aumentando a sua confiabilidade, precisão e funcionalidade.

  • Aperfeiçoamento dos procedimentos de transporte e lançamento dos ônibus espaciais: 

Os testes do Pathfinder mostraram que o protótipo podia ser transportado com segurança e eficiência para os locais de teste, usando diferentes veículos de transporte. 

Isso permitiu que a NASA aperfeiçoasse os procedimentos de transporte e lançamento dos ônibus espaciais, reduzindo os custos e os riscos envolvidos.

5.2 Impacto nas Decisões de Projeto

O simulador Pathfinder teve um impacto significativo nas decisões de projeto dos ônibus espaciais, ao fornecer dados e feedbacks para a NASA. 

Algumas das principais decisões de projeto influenciadas pelo Pathfinder foram:

  • Decisão de usar o Shuttle Carrier Aircraft (SCA) para transportar os ônibus espaciais: 

A NASA decidiu usar o SCA, um Boeing 747 modificado, para transportar os ônibus espaciais entre os locais de pouso e lançamento, após verificar que o SCA era capaz de levar o Pathfinder com segurança e eficiência. 

O SCA foi usado para transportar todos os ônibus espaciais operacionais, desde o primeiro voo em 1981 até o último em 2011.

  • Decisão de usar o Enterprise como o primeiro ônibus espacial operacional: 

A NASA decidiu usar o Enterprise, um protótipo semelhante ao Pathfinder, mas com motores, asas e sistemas funcionais, como o primeiro ônibus espacial operacional, após verificar que o Enterprise tinha as mesmas características aerodinâmicas e estruturais do Pathfinder. 

O Enterprise foi usado para realizar mais testes de aproximação e aterrissagem, antes de ser substituído pelo Columbia, o primeiro ônibus espacial a ir para a órbita terrestre, em 1981.

  • Decisão de usar o Columbia como o primeiro ônibus espacial a ir para a órbita terrestre: 

A NASA decidiu usar o Columbia, um ônibus espacial com revestimento térmico e compartimento de carga, como o primeiro ônibus espacial a ir para a órbita terrestre, após verificar que o Columbia tinha as mesmas características de peso e balanceamento do Pathfinder. 

O Columbia foi lançado pela primeira vez em 12 de abril de 1981, marcando o início da era dos ônibus espaciais.

6. Legado do Pathfinder

6.1 Papel na Preparação para Ônibus Espaciais

O legado do Pathfinder é inegável, pois ele teve um papel fundamental na preparação para os ônibus espaciais, que foram os veículos espaciais mais avançados e versáteis da história. 

Graças ao Pathfinder, a NASA pôde testar e validar os conceitos e as soluções técnicas para os ônibus espaciais, antes de construir os veículos operacionais. 

Ele também permitiu que a NASA aperfeiçoasse o design, os sistemas e os procedimentos dos ônibus espaciais, melhorando o seu desempenho, segurança e eficiência. 

O Pathfinder foi um passo essencial para o sucesso dos ônibus espaciais, que realizaram mais de 130 missões espaciais, entre 1981 e 2011, levando mais de 350 pessoas e mais de 20 mil toneladas de carga para a órbita terrestre.

6.2 Influência em Programas Futuros

O legado do Pathfinder também se estende aos programas espaciais futuros, pois ele influenciou o desenvolvimento de novos veículos espaciais reutilizáveis, capazes de transportar pessoas e cargas para o espaço e para outros destinos. 

Alguns dos programas espaciais futuros influenciados pelo Pathfinder são:

  • Programa Orion: O programa Orion é uma iniciativa da NASA para desenvolver uma cápsula espacial reutilizável, capaz de transportar até seis pessoas para a órbita terrestre, para a Lua e para Marte. 

O programa Orion é o sucessor do programa de ônibus espaciais, e visa explorar o espaço profundo e estabelecer uma presença humana permanente no espaço. 

O programa Orion está em desenvolvimento desde 2006, e já realizou um primeiro voo tripulado ao espaço em abril de 2023. 

Nesse voo, quatro astronautas estavam a bordo para verificar o bom funcionamento da nave de quatro lugares, incluindo seus sistemas de sobrevida. 

A Orion é parte fundamental dos planos da NASA para futuras missões habitadas rumo a Marte e além. 

Vale ressaltar que a Orion foi concebida pela empresa Lockheed Martin no início dos anos 2000 para o programa Constellation, projetado para levar tripulações e cargas para a Estação Espacial Internacional (ISS) e também para devolver humanos à Lua.

  • Programa Starship: O programa Starship é uma iniciativa da SpaceX, uma empresa privada de exploração espacial, para desenvolver um veículo espacial reutilizável.

Segundo a empresa do bilionário Elon Musk, a Starship será capaz de transportar até 100 pessoas e mais de 100 toneladas de carga para a órbita terrestre, para a Lua e para Marte. 

A SpaceX planejou e realizou o primeiro voo orbital da nave Starship em 17 de abril de 2023. 

Ela já vinha sendo testada em voos mais curtos desde 2019 e alcança uma impressionante altura de 120 metros. até 100 pessoas em cada viagem 1.

A Starship foi escolhida pela NASA para levar astronautas de volta à superfície da Lua na missão Artemis 3, prevista para o final de 2025. 

A NASA também tem a Artemis 2 marcada para 2024, quando quatro astronautas farão um voo em torno da Lua. 

Para o primeiro voo orbital, a nave decolou da Starbase, base de lançamentos da SpaceX em Boca Chica, no sul do Texas. 

7. Momentos Significativos

7.1 Destaques dos Testes

O simulador Pathfinder teve vários momentos significativos durante os seus testes, que marcaram a história da exploração espacial. 

Alguns dos destaques dos testes foram:

  • O primeiro voo de aproximação e aterrissagem (ALT) do Pathfinder, em 18 de agosto de 1977, que foi o primeiro voo livre de um veículo espacial reutilizável, e que demonstrou a viabilidade do conceito de ônibus espacial.
  • O primeiro voo de aproximação e aterrissagem (ALT) do Pathfinder com o trem de pouso abaixado, em 12 de outubro de 1977, que foi o primeiro pouso de um veículo espacial reutilizável, e que testou o sistema de freios e o sistema de paraquedas do protótipo.
  • O primeiro teste de voo orbital (OFT) do Pathfinder, em 20 de março de 1978, que foi o primeiro teste de um veículo espacial reutilizável em uma câmara de vácuo, e que simulou as condições de temperatura e pressão do espaço.

7.2 Contribuições Duradouras

O simulador Pathfinder também teve várias contribuições duradouras para a exploração espacial, que transcendem os seus testes. 

Algumas das contribuições duradouras foram:

  • A contribuição para o avanço da ciência e da tecnologia espacial, ao fornecer dados e conhecimentos para o projeto e a operação dos ônibus espaciais, que realizaram missões científicas, tecnológicas, militares e comerciais no espaço.
  • A contribuição para a educação e a divulgação espacial, ao inspirar e motivar gerações de estudantes, pesquisadores, engenheiros e entusiastas do espaço, que se interessaram e se envolveram com os temas e as atividades espaciais.
  • A contribuição para a preservação e a valorização do patrimônio espacial, ao se tornar uma peça de museu, que conta a história e a importância do simulador Pathfinder e dos ônibus espaciais, e que pode ser visitada e apreciada pelo público.

8. Conclusão

8.1 Relevância Contínua

O simulador Pathfinder continua sendo relevante na história da exploração espacial, pois ela foi uma das primeiras iniciativas da NASA para desenvolver um veículo espacial reutilizável, capaz de transportar pessoas e cargas para a órbita terrestre e retornar à Terra. 

O Pathfinder foi um protótipo de baixo custo, construído para testar as características aerodinâmicas e estruturais dos futuros ônibus espaciais. 

Ele submetido a uma série de testes de solo e de voo, que forneceram dados valiosos para o projeto e a operação dos ônibus espaciais. 

O Pathfinder também permitiu que a NASA aperfeiçoasse o design, os sistemas e os procedimentos dos ônibus espaciais, melhorando o seu desempenho, segurança e eficiência.

8.2 Legado e Importância

O simulador Pathfinder teve um legado e uma importância enormes para a exploração espacial, pois ela contribuiu significativamente para o avanço da ciência e da tecnologia espacial, para a educação e a divulgação espacial, e para a preservação e a valorização do patrimônio espacial. 

Graças ao Pathfinder, a NASA pôde lançar os ônibus espaciais, que foram os veículos espaciais mais avançados e versáteis da história, e que realizaram mais de 130 missões espaciais, entre 1981 e 2011. 

O Pathfinder também inspirou e motivou gerações de estudantes, pesquisadores, engenheiros e entusiastas do espaço, que se interessaram e se envolveram com os temas e as atividades espaciais. 

O Pathfinder também se tornou uma peça de museu, que conta a história e a importância do simulador e dos ônibus espaciais, e que pode ser visitada e apreciada pelo público.

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Referências