Pioneiros nas Estrelas: A Seleção dos Astronautas do Projeto Mercury
O Projeto Mercury foi o primeiro programa espacial tripulado dos Estados Unidos, que teve como objetivo colocar um homem em órbita da Terra.
Para isso, era necessário escolher os primeiros astronautas americanos, que seriam os protagonistas de uma missão histórica e desafiadora.
Neste artigo, vamos explorar como foi o processo de seleção dos astronautas do Projeto Mercury, quais foram os critérios utilizados, quem foram os sete escolhidos, como eles se prepararam para a missão, e qual foi o seu legado e impacto para a exploração espacial e para as futuras gerações.
1. Introdução
1.1 Importância da seleção dos astronautas do Projeto Mercury
A seleção dos astronautas do Projeto Mercury foi um dos passos mais importantes e decisivos para o sucesso do programa espacial americano.
A escolha dos primeiros homens que iriam ao espaço não era apenas uma questão técnica, mas também política, científica e cultural.
Os astronautas seriam os representantes dos Estados Unidos na corrida espacial contra a União Soviética, que já havia lançado o primeiro satélite artificial, o Sputnik, em 1957, e o primeiro ser vivo, a cadela Laika, em 1958.
Os astronautas também seriam os sujeitos de uma série de experimentos e pesquisas sobre os efeitos do voo espacial no corpo humano, que poderiam trazer novos conhecimentos e avanços para a medicina e a ciência.
Além disso, os astronautas seriam os ídolos e heróis de uma nação e de uma geração, que sonhavam em explorar o desconhecido e conquistar as estrelas.
2. Critérios de Seleção
2.1 Requisitos físicos
Para ser um candidato a astronauta do Projeto Mercury, era preciso atender a alguns requisitos físicos básicos, que visavam garantir a saúde e a segurança dos futuros viajantes espaciais.
Os requisitos eram os seguintes:
- Ter menos de 40 anos de idade;
- Ter altura máxima de 1,80 m;
- Ter peso máximo de 82 kg;
- Ter excelente visão;
- Ter pressão arterial normal;
- Não ter histórico de doenças graves ou crônicas;
- Não ter alergias ou intolerâncias alimentares;
- Não ter vícios ou dependências químicas;
- Não ter tatuagens ou piercings.
2.2 Treinamento militar e experiência
Outro critério fundamental para a seleção dos astronautas do Projeto Mercury era o treinamento militar e a experiência prévia em aviação.
Os candidatos deveriam ser oficiais das forças armadas dos Estados Unidos, com graduação em engenharia, física, matemática ou áreas afins.
Além disso, eles deveriam ter pelo menos 1.500 horas de voo como pilotos de jatos, e ter demonstrado habilidade, coragem e liderança em situações de combate ou de emergência.
Esses requisitos eram importantes para garantir que os astronautas tivessem a capacidade técnica, a disciplina e a resistência necessárias para enfrentar os desafios e os riscos do voo espacial.
2.3 Perfil psicológico
O último critério para a seleção dos astronautas do Projeto Mercury era o perfil psicológico dos candidatos.
Eles deveriam ter uma personalidade equilibrada, estável, confiante e otimista, sem traços de ansiedade, depressão, fobia ou agressividade.
Eles também deveriam ter um alto grau de inteligência, criatividade, adaptabilidade e cooperação, além de uma forte motivação e um senso de aventura e de patriotismo.
Esses requisitos eram essenciais para assegurar que os astronautas tivessem a saúde mental, a capacidade cognitiva e a atitude adequadas para lidar com as situações de estresse, de isolamento e de incerteza que poderiam ocorrer durante a missão espacial.
3. Processo de Seleção
3.1 Avaliação dos candidatos
O processo de seleção dos astronautas do Projeto Mercury começou em novembro de 1958, quando a NASA (National Aeronautics and Space Administration), a agência espacial americana, enviou uma carta para as forças armadas, solicitando a indicação de candidatos que atendessem aos critérios estabelecidos.
Das 508 indicações recebidas, 110 foram selecionadas para uma primeira avaliação, que consistia em uma série de exames médicos, físicos e psicológicos, realizados em uma base militar no Texas.
Esses exames tinham como objetivo testar a resistência, a força, a flexibilidade, a coordenação, a visão, a audição, o equilíbrio, o ritmo cardíaco, a pressão arterial, a função pulmonar, a função renal, a função hepática, a função endócrina, a função imunológica, a função neurológica, a função cognitiva, a função emocional e a função social dos candidatos.
Dos 110 candidatos avaliados, 32 foram aprovados para a segunda fase do processo de seleção.
3.2 Entrevistas e testes
A segunda fase do processo de seleção dos astronautas do Projeto Mercury ocorreu em janeiro de 1959, quando os 32 candidatos aprovados foram convocados para uma série de entrevistas e testes, realizados em uma base naval na Pensilvânia.
Essas entrevistas e testes tinham como objetivo avaliar a personalidade, a inteligência, a criatividade, a adaptabilidade, a cooperação, a motivação e a atitude dos candidatos, bem como a sua aptidão para o voo espacial.
Os candidatos foram submetidos a entrevistas individuais e coletivas, com psicólogos, médicos, engenheiros e oficiais da NASA, que fizeram perguntas sobre a sua vida pessoal, profissional, familiar e acadêmica, sobre os seus interesses, hobbies, valores e opiniões, sobre os seus conhecimentos, habilidades e competências, e sobre os seus objetivos, expectativas e desafios.
Os candidatos também foram submetidos a testes específicos, como o teste de Rorschach, o teste de associação de palavras, o teste de completar frases, o teste de inteligência, o teste de criatividade, o teste de liderança, o teste de cooperação, o teste de estresse, o teste de isolamento, o teste de centrifugação, o teste de desorientação, o teste de gravidade zero, o teste de simulação de voo, o teste de comunicação e o teste de emergência.
Dos 32 candidatos entrevistados e testados, 18 foram selecionados para a terceira e última fase do processo de seleção.
3.3 Comitê de seleção
A terceira e última fase do processo de seleção dos astronautas do Projeto Mercury aconteceu em abril de 1959, quando os 18 candidatos selecionados foram submetidos à avaliação final de um comitê de seleção, formado por representantes da NASA, das forças armadas, da indústria aeroespacial e da mídia.
Esse comitê tinha a responsabilidade de escolher os sete astronautas que iriam participar do Projeto Mercury, com base nos resultados das fases anteriores, nas recomendações dos avaliadores e nas impressões pessoais dos membros do comitê.
O comitê levou em consideração não apenas os aspectos técnicos, científicos e psicológicos dos candidatos, mas também os aspectos sociais, culturais e políticos, como a aparência, a personalidade, a família, a origem, a religião, a ideologia e a popularidade.
O comitê também procurou escolher um grupo diverso e equilibrado de astronautas, que representasse as diferentes regiões, ramos e especialidades das forças armadas americanas.
Após uma longa e difícil deliberação, o comitê anunciou os nomes dos sete astronautas escolhidos para o Projeto Mercury, que ficaram conhecidos como os Mercury Seven.
4. Os Sete Escolhidos
4.1 Apresentação dos astronautas do Projeto Mercury
Os sete astronautas escolhidos para o Projeto Mercury foram:
- Malcolm Scott Carpenter: Tenente-comandante da Marinha, piloto de jatos e de helicópteros, engenheiro aeronáutico, nascido no Colorado.
- Leroy Gordon Cooper Jr.: Capitão da Força Aérea, piloto de jatos e de foguetes, engenheiro aeroespacial, nascido em Oklahoma.
- John Herschel Glenn Jr.: Major da Marinha, piloto de jatos e de caças, engenheiro civil, nascido em Ohio.
- Virgil Ivan Grissom: Capitão da Força Aérea, piloto de jatos e de bombardeiros, engenheiro mecânico, nascido em Indiana.
- Walter Marty Schirra Jr.: Comandante da Marinha, piloto de jatos e de caças, engenheiro aeronáutico, nascido em Nova Jersey.
- Alan Bartlett Shepard Jr.: Comandante da Marinha, piloto de jatos e de caças, engenheiro naval, nascido em New Hampshire.
- Donald Kent Slayton: Capitão da Força Aérea, piloto de jatos e de bombardeiros, engenheiro industrial, nascido em Wisconsin.
4.2 Características distintivas de cada astronauta
Cada um dos sete astronautas do Projeto Mercury tinha as suas próprias características distintivas, que os tornavam únicos e especiais.
Alguns exemplos são:
- Carpenter era o mais intelectual e curioso do grupo, interessado em filosofia, literatura e arte. Ele também era o mais espiritual e místico, acreditando na existência de vida extraterrestre e na conexão entre o homem e o universo.
- Cooper era o mais aventureiro e audacioso do grupo, sempre buscando novos desafios e emoções. Ele também era o mais otimista e confiante, nunca duvidando das suas capacidades e do sucesso da missão.
- Glenn era o mais patriota e heroico do grupo, tendo sido condecorado por seus atos de bravura na Segunda Guerra Mundial e na Guerra da Coreia. Ele também era o mais conservador e religioso, defendendo os valores tradicionais da família e da fé cristã.
- Grissom era o mais determinado e persistente do grupo, superando as dificuldades e os obstáculos com garra e coragem. Ele também era o mais pragmático e realista, focando nos aspectos técnicos e científicos da missão.
- Schirra era o mais experiente e habilidoso do grupo, tendo sido o primeiro a pilotar todos os tipos de aeronaves existentes na época. Ele também era o mais bem-humorado e brincalhão, aliviando a tensão e o estresse com as suas piadas e gracejos.
- Shepard era o mais competitivo e ambicioso do grupo, sempre querendo ser o melhor e o primeiro em tudo. Ele também era o mais ousado e irreverente, desafiando as regras e as autoridades com a sua rebeldia e independência.
- Slayton era o mais organizado e disciplinado do grupo, coordenando e planejando as atividades e as rotinas dos demais. Ele também era o mais leal e solidário, apoiando e incentivando os seus companheiros de equipe.
5. Treinamento e Preparação
5.1 Treinamento intensivo
Após serem escolhidos para o Projeto Mercury, os sete astronautas iniciaram um treinamento intensivo e rigoroso, que durou cerca de dois anos, e que tinha como objetivo prepará-los física, mental e tecnicamente para a missão espacial.
O treinamento envolvia diversas atividades, tais como:
- Estudar os princípios e as operações da nave espacial Mercury, bem como os procedimentos e os protocolos da missão.
- Aprender sobre a fisiologia e a psicologia do voo espacial, e como lidar com os efeitos da microgravidade, da radiação, da reentrada e da recuperação.
- Realizar exercícios físicos regulares, para manter a forma e a resistência, e seguir uma dieta balanceada e nutritiva, para evitar deficiências ou excessos.
- Participar de sessões de simulação de voo, para praticar as manobras e as comunicações, e para se familiarizar com os instrumentos e os controles da nave.
- Submeter-se a testes de estresse, para avaliar a capacidade de reação e de adaptação a situações extremas, como a aceleração, a desaceleração, a vibração, a rotação, a desorientação, o calor, o frio, o ruído, a dor, o medo e a ansiedade.
- Submeter-se a testes de isolamento, para avaliar a capacidade de tolerância e de convivência a situações de solidão, de confinamento, de monotonia, de privação sensorial, de falta de contato humano e de falta de controle.
- Realizar treinamentos específicos, como o de sobrevivência na selva, no mar e no deserto, para aprender a lidar com possíveis cenários de emergência e de resgate.
- Realizar treinamentos complementares, como o de paraquedismo, o de natação, o de mergulho, o de voo em balão, o de voo em avião, o de voo em helicóptero e o de voo em foguete, para desenvolver habilidades e experiências adicionais.
5.2 Desafios e superações
O treinamento dos astronautas do Projeto Mercury não foi fácil nem tranquilo.
Eles enfrentaram vários desafios e dificuldades, que exigiram deles muita dedicação, esforço e sacrifício.
Alguns exemplos são:
- A pressão e a expectativa da opinião pública, da mídia, do governo e da NASA, que os colocavam como heróis nacionais, mas também como cobaias humanas.
- A concorrência e a rivalidade entre eles, que os levava a disputar entre si pela preferência dos instrutores, dos engenheiros e dos oficiais, e pela oportunidade de ser o primeiro a ir ao espaço.
- A incerteza e a insegurança sobre o sucesso da missão, que os fazia questionar a confiabilidade e a eficiência da nave espacial Mercury, e a possibilidade de falhas ou acidentes.
- A saudade e a distância da família, dos amigos e da vida normal, que os obrigava a se afastar dos seus entes queridos e das suas rotinas habituais, e a se dedicar integralmente ao treinamento.
- Os riscos e os perigos do treinamento, que os expunha a situações de alto grau de dificuldade e de sofrimento, e que podia causar lesões, doenças ou até mesmo a morte.
Apesar de todos esses desafios e dificuldades, os astronautas do Projeto Mercury conseguiram superá-los com bravura e determinação, demonstrando que estavam preparados e qualificados para a missão espacial.
Eles também desenvolveram uma forte amizade e camaradagem entre eles, apoiando-se e ajudando-se mutuamente nos momentos de crise e de dificuldade.
6. Legado e Impacto
6.1 Contribuição para a exploração espacial
A seleção dos astronautas do Projeto Mercury foi um marco na história da exploração espacial, pois representou o início da era espacial humana.
Os sete astronautas foram os pioneiros e os desbravadores do espaço, realizando feitos extraordinários e inéditos, que abriram caminho para futuras missões e conquistas.
Entre os feitos realizados pelos astronautas do Projeto Mercury, podemos destacar:
- O primeiro voo espacial suborbital americano, realizado por Alan Shepard, em 5 de maio de 1961, a bordo da nave Freedom 7, que atingiu uma altitude de 187 km e uma velocidade de 8.277 km/h, em um voo de 15 minutos e 28 segundos.
- O segundo voo espacial suborbital americano, realizado por Virgil Grissom, em 21 de julho de 1961, a bordo da nave Liberty Bell 7, que atingiu uma altitude de 190 km e uma velocidade de 8.317 km/h, em um voo de 15 minutos e 37 segundos.
- O primeiro voo espacial orbital americano, realizado por John Glenn, em 20 de fevereiro de 1962, a bordo da nave Friendship 7, que completou três órbitas em torno da Terra, em um voo de 4 horas, 55 minutos e 23 segundos.
- O segundo voo espacial orbital americano, realizado por Scott Carpenter, em 24 de maio de 1962, a bordo da nave Aurora 7, que completou três órbitas em torno da Terra, em um voo de 4 horas, 56 minutos e 5 segundos.
- O terceiro voo espacial orbital americano, realizado por Walter Schirra, em 3 de outubro de 1962, a bordo da nave Sigma 7, que completou seis órbitas em torno da Terra, em um voo de 9 horas, 13 minutos e 11 segundos.
- O quarto e último voo espacial orbital americano do Projeto Mercury, realizado por Gordon Cooper, em 15 e 16 de maio de 1963, a bordo da nave Faith 7, que completou 22 órbitas em torno da Terra, em um voo de 34 horas, 19 minutos e 49 segundos.
Esses voos espaciais foram fundamentais para o avanço da ciência e da tecnologia espacial, pois permitiram coletar dados e informações valiosas sobre o comportamento humano e o desempenho da nave no espaço, bem como testar e aprimorar os sistemas e os equipamentos necessários para as missões posteriores.
Além disso, esses voos espaciais foram essenciais para o prestígio e a liderança dos Estados Unidos na corrida espacial, pois demonstraram a capacidade e a competência dos americanos em enviar homens ao espaço e trazê-los de volta em segurança, superando os feitos dos soviéticos, que haviam enviado o primeiro homem ao espaço, Yuri Gagarin, em 12 de abril de 1961, mas que não haviam divulgado muitos detalhes sobre a sua missão.
6.2 Inspirando futuras gerações
A seleção dos astronautas do Projeto Mercury também teve um grande impacto cultural e inspiracional, pois despertou o interesse e a admiração do público pelo espaço e pela ciência.
Os sete astronautas se tornaram celebridades e ícones da cultura popular, recebendo homenagens, prêmios, medalhas, honrarias, livros, filmes, documentários, músicas, selos, moedas, bonecos, brinquedos, entre outros.
Eles também se tornaram modelos e exemplos para as futuras gerações, que sonhavam em seguir os seus passos e em se tornar astronautas.
Muitos dos que viriam a ser astronautas nas missões posteriores, como os do Projeto Gemini, do Projeto Apollo, do Ônibus Espacial, da Estação Espacial Internacional, entre outros, foram influenciados e motivados pelos astronautas do Projeto Mercury, que lhes mostraram que era possível realizar o sonho de ir ao espaço e de explorar o desconhecido.
7. Conclusão
7.1 Recapitulação da seleção e contribuição dos astronautas
Neste artigo, vimos como foi o processo de seleção dos astronautas do Projeto Mercury, desde os critérios estabelecidos pela NASA, até a escolha final dos sete pioneiros que iriam ao espaço.
Também vimos como eles se prepararam para a missão, enfrentando um treinamento rigoroso e desafiador, que testou os seus limites físicos, mentais e emocionais.
E, por fim, vimos como eles contribuíram para a exploração espacial, realizando voos históricos e inovadores, que trouxeram novos conhecimentos e avanços para a ciência e a tecnologia, e que inspiraram futuras gerações de astronautas e de sonhadores.
7.2 Relevância contínua na história espacial
Os astronautas do Projeto Mercury foram os primeiros a abrir as portas do espaço para a humanidade, e por isso, merecem o nosso reconhecimento e o nosso respeito.
Eles foram os protagonistas de uma das maiores aventuras e conquistas da história, que marcou o início de uma nova era de descobertas e de possibilidades.
Eles foram os heróis que arriscaram as suas vidas por um ideal maior, que era o de ampliar os horizontes e os limites do conhecimento e da experiência humana.
Eles foram os exemplos que mostraram que o impossível pode se tornar possível, quando se tem coragem, determinação e paixão.
Eles foram os pioneiros nas estrelas, que nos deixaram um legado de valor inestimável, que continua vivo e relevante na história espacial.
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